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Aceitação não é imobilidade

Nas últimas semanas tenho acompanhado histórias de mulheres que descobriram o câncer há pouco tempo e que estão começando a experimentar os efeitos das primeiras quimioterapias. Ao mesmo tempo, acompanho algumas que tiveram recidivas ou um segundo câncer. Vejo que, quem aceita a situação, enfrenta muito melhor e chega mais inteira ao fim do tratamento.


Percebo que as mais jovens tem mais dificuldade pra isso. Mais dificuldades até do que aquelas que estão enfrentando a doença pela segunda vez. Claro que é difícil, muito difícil, sim! Ninguém quer ter uma doença grave, ninguém quer perder os cabelos, ou ver as unhas ficando roxas doloridas e ocas, ninguém quer experimentar o cansaço que a quimioterapia e a radioterapia provocam, ou as dores decorrentes do tratamento.

Não, ninguém quer nada disso.


Mas, algo que nos ajuda a enfrentar cada obstáculo que surge na vida, seja pelo câncer ou por qualquer outro motivo, é a aceitação. Já escrevi isso em vários posts, porque vivi essa situação. Já tive desafios que não aceitei e que foram muito dolorosos. Ao longo de quase três anos, venho observando pessoas resistindo e pessoas aceitando os seus desafios de vida.



Calma, não tire aí conclusões precipitadas. Não estou dizendo que a pessoa não pode chorar, ficar chateada num primeiro momento. Claro que pode! Mas, passado aquele instante, é hora de lavar o rosto, endireitar os ombros, olhar pra frente e se perguntar, " o que vou fazer com isso"?

Será que vou me colocar no papel de vítima, aquele que sofre a ação de terceiros? Ou será que vou ser protagonista da ação, em busca de algo melhor?


Será que vou fazer caminhadas pra diminuir a reação à quimioterapia, vou me alimentar de modo a reduzir a náusea, vou descansar algumas horas a mais no dia, mas nas outras serei ativa, será que vou aceitar minha careca e disfarça-la com lenços e chapéus (caso não queira ostentá-la por aí)... ou será que vou me ver como uma pobre sofredora, vou me esconder dentro do meu sofrimento e vou esperar tudo isso passar?


Na semana passada, escrevi sobre a Cassiana e a recidiva de um câncer agressivo, dando uma ideia de como ela lidou com isso. Sim, logo de cara ela se revoltou, pra depois decidir o que fazer e ir em busca de todas as coisas que estavam ao alcance dela, para melhorar. E de lá pra cá, neste ring contra o câncer, venceu em todos os rounds.


Hoje, vou falar da Sheyla Manke. Uma mulher linda, de um sorriso contagiante. Eu a conheci, pessoalmente, pouco antes do outubro rosa do ano passado, numa exposição lá no MON. Dentista, de Santa Catarina, veio pra cá para ser paciente do mesmo médico que eu, o mastologista Cleverton Spautz, e da mesma oncologista clínica, Débora Gagliato. (Não preciso nem dizer que está em ótimas mãos, né?!).


Bem, fez todo tratamento com esse sorriso lindo aí da foto e com uma energia invejável. Enfrentou a cirurgia do mesmo modo. Há poucos meses, descobriu que um novo nódulo havia aparecido e que precisaria passar por outro procedimento. Eu a vi um dia antes e uns dois dias depois... adivinhem como ela estava?


Sorridente, ué! rsss


Na semana passada, mais uma cirurgia para começar o processo da reconstrução mamária, e das grandes, viu?! Sábado fui visitá-la, na casa da Ju e do Rodrigo, irmã e cunhado ( ele, coincidentemente, um amigo aqui e casa desde que era solteiro).


Nem preciso dizer como eu a encontrei, né?

Sorridente, cheia de energia, só reclamou um pouquinho do incômodo que os dois drenos causava


O que faz essas pessoas vencedoras não é apenas o fato de que dão uma bela rasteira no câncer. Mas, é a maneira como elas aceitam o desafio que a vida lhes coloca a frente. Elas não perdem tempo se lamentando. Vão em busca de tudo que é possível fazer, e vão com uma disposição interna incrível.


Ah, mas elas, ou tem plano de saúde ou puderam pagar pelo tratamento! Então, deixa eu contar da Edna Ramos? Ela fez o tratamento todo pelo SUS, mais foi buscar apoio da Associação das Amigas da Mama aqui de Curitiba. Fez o possível pra enfrentar tudo do melhor modo. A disposição dela é linda! Além de se cuidar, ela ajuda outras mulheres, hoje é uma das voluntárias lá da AAMA. Adoro a energia da Edna e sentir o tamanho daquele coração distribuindo em sorrisos, muita quimioterapia do amor.

(A foto aí de cima é pra dizer que temos de arregaçar as mangas!)


Eu poderia dar muitos outros exemplos. Falar de pessoas que hoje seguem tratamentos paliativos, tentando ganhar tempo sobre a doença até que apareça algo novo que as façam viver mais. Gente que entendeu que viver, não é fazer muitos aniversários. Viver é saber o que é importante na vida e aproveitar cada detalhe!


E eu ainda diria o seguinte, de que adianta viver 100 anos reclamando, se vitimizando, se destruindo, deixando passar os melhores momentos? Eu prefiro viver a metade disso, vibrando com cada dia que me é concedido, levantando depois de cada tropeço - mesmo que o joelho esteja esfolado (rssss) - lutando pra viver melhor, enxergando as oportunidades que surgirem nas adversidades e agradecendo por isso!


Uma boa semana a todos e até o próximo post! beijo





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