A Vida é um fio delicado
(Já aviso que o post de hoje não tem graça. Ele é pesado. Então, pense bem se quer continuar sua leitura. Mas saiba que, se você for até o fim, talvez perceba que há muitos motivos na sua vida para rir, se alegrar e agradecer.)
Hoje, meu dia estava ótimo. Começou tranqüilo, tivemos um almoço em família feliz e saboroso, uma tarde preguiçosa. Tudo ia be
m até que, saí para dar uma carona e, justamente na volta pra casa, na rua que passa por dentro do Parque Tingüi ( que eu considero o mais lindo de Curitiba) presenciei uma cena triste.
Um casal caído da pista contrária à minha. Não sei dizer o que aconteceu. Não vi sinal de acidente. Vi somente os dois, ali, caídos. O rapaz deitado de lado, de olhos fechados, com o rosto ensanguentado e muito pálido. A moça de bruços, a face voltada para o asfalto, imóvel. Algumas pessoas próximas à eles, a guarda municipal orientando o trânsito que, aos sábados, é sempre maior na região.
Não preciso dizer o quanto fiquei arrasada. Fiz o restante do caminho pedindo a Deus que aquelas vidas não terminassem ali!
Cheguei em casa impactada. A cena não me sai da cabeça. E um pensamento foi tão recorrente que precisei vir aqui, colocá-lo pra fora! Aqueles dois jovens deviam estar passeado no parque minutos antes e, de repente, algo grave aconteceu, talvez colocando a vida deles em risco.
Fiquei pensando... mais do que um fio, a vida é sensível a acontecimentos repentinos. Um carro, um tiro, uma queda, uma tempestade, o rompimento de uma barreira, um raio, um enfarto... algo que cruza uma existência e, sem aviso, coloca nela um ponto final.
Muitas vezes lamentamos um diagnóstico de doença grave, choramos a perda de coisas materiais ou nos afundamos em tristeza por frustrações profissionais ou emocionais. Porém, não agradecemos o fato de termos a chance de lutar contra tudo isso.
Se alguém soprasse no meu ouvido que eu morreria amanhã, Meu Deus, quantas coisas eu poderia fazer antes de partir. Quantos abraços, quantos "eu te amo", quantos "me perdoe" ou "eu te perdôo" eu diria...

Foto: Ju Gracia ( 2016 ) quando estávamos em tratamento
Durante essa semana, comentei com algumas pessoas sobre a alegria que eu descobri depois do diagnóstico do câncer. Uma alegria que me fez enfrentar o tratamento com um sorriso fácil e verdadeiramente feliz.
Eu tive a chance de lutar pela minha vida! Isso me fez encontrar essa alegria, me fez valorizar o presente, me fez enxergar o belo naquilo que antes eu não apreciava, me fez escolher entre o que me fazia bem e o que me fazia mal. Claro que, às vezes esqueço tudo isso, mas procuro sempre lembrar para não me perder em insignificâncias.
Como disse Gilberto Dimenstein na frase que citei no post anterior, "não desejo que ninguém tenha câncer", mas desejo a clareza que a "proximidade" da morte nos traz. Clareza para entender a profundidade e a beleza da vida. Para entender que os tropeços e quedas nos servem para observar, valorizar e até evitar o que está fora do alcance da nossa visão, mas que está ali, bem perto.
Então, que a gente aproveite nossa existência para tornar o mundo um pouco melhor, não só para nós mesmos, mas para os outros também.
Quero seguir hoje pedindo, fervorosamente, que os fios de vida daquele jovem casal não tenham se rompido. E que tudo não tenha passado apenas de um susto. Um susto que jogue luz sobre as coisas que não são valorizadas, mas que podem sim nos fazer felizes!
