Dois sustos num só dia!
No último sábado, eu e meu marido precisamos atravessar a cidade, protegidos, dentro do nosso carro. Passamos em frente ao Museu Oscar Niemeyer, no Centro Cívico aqui em Curitiba, e levamos um susto diante da cena que contemplamos. Na volta, já estava escurecendo, passamos pelos bares que hoje ocupam as lojas do antigo Shopping Hauer... quase não acreditamos no que vimos. A visão também era assustadora!

Antes de explicar o motivo, deixe eu contar algo. Sempre digo que pacientes diagnosticados com câncer tem a chance de buscar tratamento; que conseguem dar e receber afeto durante o tratamento e ao fim dele (quando termina, porque muitos seguem para o resto da vida) e nos casos daqueles que partem, a chance de ter a mão acarinhada e palavras de amor na despedida.
Não estou dizendo que diagnóstico de câncer é bom, hein gente!?! Apenas estou trazendo aqui uma reflexão que vocês vão entender melhor um pouco mais à frente.
Diante da realidade em que vivemos, eu me sinto na obrigação de falar o seguinte: pacientes que morrem por COVID não tem a mesma chance. Eles morrem afastados das pessoas que amam, para desespero das famílias que muitas vezes mal conseguem ver seus parentes e amigos queridos. É tudo muito solitário, tudo muito dramático.
Dois dias antes da véspera de Natal, um grande amigo do meu irmão, depois de quase 50 dias na UTI, morreu em consequência desse vírus que está marcando pra sempre a humanidade. Sabe aquele cara gente boa que, em todas as reuniões da nossa família, estava lá com a esposa e a filhinha. Falava baixo, bem ao contrário do meu irmão que - como eu - fala alto. Marido e pai carinhoso, 57 anos, homem trabalhador!
Durante o período de UTI, uma legião de amigos se reuniu para arrecadar dinheiro e pagar um tratamento caro demais e que não tinha cobertura pelo plano de saúde, mas que seria a esperança naquele momento. Pois o esforço dos amigos valeu! O tratamento funcionou. No entanto, dias depois, ele teve uma recaída, apresentou uma melhora, recaiu novamente, e novamente...
Pois bem, depois de quase 50 dias de muito sofrimento pra ele, pra a família e para os amigos, não resistiu mais. Era realmente, muito querido por todos, inclusive por cada membro da minha família.
Pra mim, alguns números dentre as vítimas, podem ser substituídos por nomes queridos ...Ricardo, Luzia, Silverio... também nomes de alguns conhecidos como um médico, um político, e assim por diante. Eu mesma, já contei aqui, passei pelo COVID!! Tive sorte, poucos sintomas. Vi minha mãe debilitada ser diagnosticada com o vírus., vivi o medo de perdê-la! Assisti minha irmã, antes saudável, passar a usar bombinha como consequência da infecção. E enfrentei a tensão de acompanhar à distância meu irmão, minha cunhada e um sobrinho apresentarem sintomas.
Agora, volto às cenas que descrevi lá nos primeiros parágrafos. No auge da pandemia, quando as equipes de saúde estão exaustas pelo esforço em tentar salvar vidas nas UTIs já sem vagas, arriscando as próprias vidas, ver jovens lotando as calçadas em frente ao MON, sem máscaras, aglomerados... e muito mais aglomerados (e igualmente sem máscaras) ao redor do antigo Shopping Hauer, me fez sentir medo dos ALIENS - mas nada a ver com alienígenas! ALIENS, de alienados irresponsáveis!