UM DESAFIO NÃO IMPEDE OUTRO
Incentivada por minha querida companheira de blog, Juci Ribeiro, decidi voltar a escrever. Neste momento não quero falar do câncer, mas sobre a vida depois dele e seus desafios. Não pela doença (na verdade, nunca me senti doente), mas pelos desafios que qualquer pessoa enfrenta.
Não se assuste com o que vou escrever agora, leia com frieza e distanciamento, ok?
Passada a euforia de ter superado o tumor, passados os primeiros anos do aprendizado que ele nos traz... é possível que, em alguns momentos, você pense, "ai, será que valeu a pena ter enfrentado tudo aquilo e agora estar aqui, encarando tanta coisa difícil?".
É mais ou menos assim, você tem a ilusão de que, por ter vivido uma situação difícil, desafiadora, que te colocou mais perto da morte, que te ensinou a valorizar o que realmente tem valor, a vida - a partir dali - vai ser um rio de águas calmas e tranquilas.
No início a gente se sente invencível mesmo! É uma sensação maravilhosa. Parece que aprendemos a lidar com tudo, e quase nada vai nos abalar. Parece que pode aparecer um leão nan nossa frente que iremos tratá-lo como um gatinho!!!!!
Porém, a realidade é um pouco diferente. O tempo passa e a gente pode voltar a pensar, agir e sentir como antes. É como se a vida nos testasse muitas vezes, testasse a nossa capacidade de resistir, de nos mantermos equilibradas e equilibrados.
Nestes quase oito anos do diagnóstico, olho pra trás e vejo como somos frágeis diante da vida, não diante da morte. Fico surpresa comigo mesma, vendo como a pressão externa pode ser muito mais forte do que nossos ímpetos internos. Falo de trabalho, de família, de amigos, de situações localizadas e de outras permanentes.
Nos últimos anos, vivemos a pressão da pandemia e suas consequências nefastas. Eu, particularmente, passei a conviver com a falta de saúde e independência da minha mãe há três anos. Depois , a partida do meu pai, há um ano. E no meio de tudo, uma reforma que deveria ter durado três meses e se arrastou por quase dois anos! Fora isso, todas as questões comuns a todo mundo como desafios com filhos, casamento, trabalho, dúvidas pessoais, profissionais, etc!
O duro é que, se a gente "fraqueja" diante de alguns desses momentos, a gente chega a sentir culpa. Culpa por não ser capaz de dar mais valor à vida, culpa porque tem gente enfrentando recidivas e você não, culpa porque pessoas não tiveram a oportunidade de viver como você teve, culpa porque tem gente enfrentando doenças até mais severas, perdendo filhos, passsando fome, por que tem gente que não tem acesso à coisas que você tem, e por aí vai. É como se a gente não estivesse sendo digna ou digno da segunda chance que recebemos.
"N'é brinquedo, não!", como diria dona Jura! rssss
Juro que não estou tentando me vitimizar, com este desabafo!! minha intenção é dividir com vocês meus debates internos.
A pandemia, apesar de eu ter tido COVID, achei que enfrentei relativamente bem. Mas, certamente ela deixou marcas. Os problemas de saúde da minha mãe e várias situações que nossa família enfrentou por conta disso, foram bem difíceis. O adoecimento do meu pai e a partida dele ( que cuidava muito da minha mãe), em mais ou menos um mês, exigiram muito equilíbrio e força. Foram dias realmente duros. Mas, agradeço pelos 85 anos que ele viveu aqui nesta terra e por minha mãe ter resistido e estar entre nós!
Mas, porque estou escrevendo tudo isso? Também não sei ao certo! Talvez para alertar outras pessoas a não achar que UM grande desafio na vida vai fazer com que todos os outros deixem de existir ou pareçam menores! Não, não é assim! Talvez a gente passe a encará-los de modo diferente. Talvez a gente fique com a "casca" mais dura, mas seguimos sofrendo dores da carne e da alma. Admiro quem consegue promover mudanças internas e externas para o resto da vida! Ao mesmo tempo, acredito que podemos aprender com os desafios, dos mais leves aos mais pesados.
Olhando pra mim, acho que tenho de fazer um reencontro comigo, voltar-me para dentro e trazer à tona aquela mulher que começou a escrever este Blog, lá em dezembro de 2015. quem sabe eu a encontre no baú onde vamos guardando nossas memórias e experiências?! Creio que, apesar de parecer pra baixo, com esse post, apesar de - em alguns momentos - ter sentido vontade de desistir das minhas lutas... sempre depois de atravessar as tempestades e chegar a areia, percebo que continuo otimista em relação à vida! Mesmo que uma ponta de tristeza possa atravessar esse otimismo!
E o que faço nas horas em que a tristeza quer ganhar a disputa com o otimismo? Foco nas coisas que eu gosto. Faço artesanato, falo com pessoas que me são especiais, me dedico ao podcast (que adoro! a foto é lá do estúdio, inclusive), leio, assisto uma comédia, enfim! Não posso dar chance pra tristeza!
Então, se você, está passando por alguma situação que suga sua energia, que lhe rouba a alegria, fale disso, busque apoio, ajuda profissional, escreva... A sua dor é real, é você quem a sente! Mas dá pra buscar maneiras saudáveis de amenizar essa dor. E sabe, depois de uma boa noite de sono, de respirar profunda e seguidamente por algumas vezes, os pensamentos ficam mais claros, a dor um pouco menos intensa.
Que minhas palavras lhe sirvam de analgésico para suas dores e estímulo para a caminhada!
